12ª Aula - Retorno A Vida Corporal – II
Parte A - Da Infância - Simpatias E Antipatias Terrenas -
Esquecimento Do Passado - Sexo Nos Espíritos
DA INFÂNCIA:
Frequentemente, ocorre ser o Espírito que anima o corpo de uma
criança, tão desenvolvido, ou mais ainda, do que o de um adulto, conforme o seu
progresso anterior. Enquanto criança, os órgãos da inteligência estando ainda
em desenvolvimento, não lhe põem a disposição todas as faculdades de um adulto.
A sua inteligência permanecerá limitada, até que a idade amadureça e ele domine
totalmente o novo organismo.
A perturbação que acompanha a encarnação não cessa de súbito com o
nascimento e só se dissipa com o desenvolvimento dos órgãos. (LE, 380).
Segundo Emmanuel no livro “O Consolador”, o Espírito no período
infantil, até os sete anos, ainda se encontra em fase de adaptação a nova
existência. Nessa idade, ainda não existe uma integração perfeita entre ele e a
matéria orgânica. Suas recordações do plano espiritual são mais vivas,
tomando-se mais susceptível de renovar o caráter e estabelecer novo caminho na
consolidação dos princípios de responsabilidade, se encontrar nos pais legítimos
representantes do colégio familiar.
Eis por que o lar é tão importante para a edificação do homem e
por que tão profunda é a missão dos pais perante as leis divinas, pois é aí que
a criança deve receber as bases do sentimento e do caráter. O estado infantil é
uma necessidade do Espírito e corresponde aos desígnios da Previdência, pois é
um tempo de repouso para o Espírito (LE, 382). O objetivo da encarnação é o
aperfeiçoamento do Espírito e o estado de infância toma-o acessível às
impressões que recebe; sua nova fase de vida vai fundamentar-se nos novos
registros inseridos a partir de então.
Daí os novos rumos limitados e dependentes deles e o aumento da
probabilidade de sucesso na nova vida. As sábias leis divinas colocam-no em um
meio onde ele só haure o que é útil, o que convém junto daqueles que estão
incumbidos de educá-lo e talvez capacitados a lhe auxiliar o adiantamento. Aos
pais e professores cumpre ponderar seriamente sobre este aspecto, pois o
Espiritismo abre um novo capítulo na Psicologia Infantil e na Pedagogia,
mostrando a importância da educação da criança, não apenas para a vida em
curso, mas também para a sua perene e definitiva evolução espiritual.
Os estabelecimentos de ensino propiciam instruções, mas somente a
família consegue educar; a universidade forma o cidadão, mas somente o lar
edifica o Espírito.
O primeiro sinal de vida da criança é expresso pelo choro para
excitar o interesse da mãe e provocar os cuidados necessários (LE, 348). Se a
sua manifestação fosse em hosanas de alegria, as reações seriam tão diferentes
que poucos se inquietariam com as suas necessidades. Em tudo erige-se a
sabedoria divina.
A mudança que se opera no caráter das criaturas ao atingirem certa
idade, particularmente a partir da adolescência, deve-se ao fato de o Espírito
retomar paulatinamente a sua natureza e mostrar-se qual era em encarnação anterior.
O que o Espírito foi, é ou será, permanece oculto na inocência da
criança. Isso permite que, no caso de Espíritos antagônicos, receba todas as
manifestações de carinho e amor essenciais para que se lhe conceda a
oportunidade adicional de redimir-se. Assim, não procederiam os pais, se ao
invés da criança cheia de graça e ingenuidade, se encontrassem sob os traços
infantis um Espírito adulto, mostrando o seu verdadeiro caráter e instinto.
A infância tem ainda outra utilidade: os Espíritos não ingressam
na vida corpórea senão para se aperfeiçoarem, para se melhorarem; a debilidade
dos primeiros anos os toma flexíveis, acessíveis aos conselhos
da experiência e daqueles que devem fazê-los progredir. E então que se pode
reformar o seu caráter e reprimir as suas más tendências.
Esse é o dever que Deus confiou aos pais, missão sagrada pela qual
terão que responder. E assim que a infância não é somente útil, necessária,
indispensável, mas ainda a consequência natural das leis que Deus estabeleceu e
que regem o Universo (LE, 385).
Simpatias e Antipatias Terrenas
Simpatia, segundo Dicionário Houaiss, é a afinidade moral,
similitude no sentir e no pensar que aproxima duas ou mais pessoas; relação que
há entre pessoas que, tendo afinidades, se sentem espontaneamente atraídas entre
si; impressão agradável, disposição favorável que se experimenta em relação a
alguém que pouco se conhece; estado afetivo próximo ao amor; faculdade de
compenetrar-se das ideias ou sentimentos de outrem.
Antipatia é aversão espontânea, irracional, gratuita por (alguém
ou algo); malquerença, repulsão; comportamento que expressa essa aversão.
Frequentemente, durante a romagem terrena, dois seres sentem-se
naturalmente atraídos um pelo outro, em circunstâncias aparentemente fortuitas;
ou inversamente, a sensação que surge é de antipatia e rejeição. Estes personagens
não se reconhecem, porém, esta primeira impressão é resultante de encarnações
anteriores, cujas experiências felizes ou desagradáveis emergem da memória
espiritual de cada um.
Nem sempre é recomendável que eles se reconheçam; a recordação das
existências passadas teria inconvenientes maiores do que pensais. Após a morte
eles se reconhecerão e saberão em que tempo estiveram juntos (LE,386a). Afora
estas circunstancias, dois Espíritos que tenham afinidades se procuram sem que
necessariamente se hajam conhecido em épocas remotas; fazem-no por identidade
de objetivos e metas.
Além de os encontros que se dão entre certas pessoas não serem
obra do acaso, mas sim o efeito de relações simpáticas, há, entre os seres
pensantes, ligações que ainda não conheceis. O magnetismo é a bússola desta ciência,
que mais tarde compreendereis melhor (LE, 388). Assim como a atração de um ser
para outro resulta da simpatia, Espíritos antipáticos se reconhecem sem se
falarem.
Dois Espíritos não são necessariamente maus pela ausência de
simpatia, mas também pela falta de similitude do modo de pensar. Tal acontece
por não serem afins. À medida que eles se elevam, as diferenças se anulam e a antipatia
desaparece. Um Espírito mal sente antipatia por aquele que possa julgá-lo e
desmascará-lo. Ao sentir sua aproximação, já pela primeira vez percebe iminente
desaprovação; reage então sob a forma de uma repulsa que se transforma
facilmente em rancor, inveja e uma inspiração de fazer o mal.
O bom Espírito, por sua vez, pode afastar-se do mau porque sabe
que não será por ele entendido; porém, consciente de sua superioridade não
alimenta rancor nem inveja; limita-se a evitá-lo.
ESQUECIMENTO DO PASSADO:
O Espírito quando reencarna, esquece totalmente o seu passado;
porém, muitas pessoas acreditam que a lembrança de vidas anteriores, no
decorrer da vida presente, seria de grande benefício. Mas, em cada reencarnação
manifestam-se as tendências decorrentes da natureza do Espírito, a orientar seu
comportamento mais correto, as boas inclinações, indicam o progresso já
realizado e as más, as paixões a serem superadas.
Inúmeras vezes, Espíritos que foram acerbos inimigos numa
determinada vida, renascem no seio de uma mesma família, a fim de removerem as
arestas e aprenderem a se amar; se relembrassem do passado, em muitos casos essa
reconciliação se tomaria extremamente difícil.
O homem nem pode nem deve saber tudo; Deus assim o quer, na sua
sabedoria. Sem o véu que lhe encobre cenas coisas, o homem ficaria ofuscado,
como aquele que passa sem transição da obscuridade para a luz. Pelo esquecimento
do passado, ele é mais ele mesmo (LE, 392).
Em cada nova existência, o Espírito usufrui do conhecimento
conquistado nas vidas passadas, estando em melhores condições de distinguir o
bem do mal; ao retomar ao plano espiritual, descortina-se diante dele sua vida pregressa.
Vê as faltas que cometeu e que deram origem aos seus sofrimentos, assim como o
modo como as teria evitado; isto lhe servira de orientação, caso tenha o mérito
de escolher por si próprio uma nova encarnação, a fim de evitar e reparar os
erros cometidos. Ele então escolhe provas semelhantes às que não soube
aproveitar, ou os embates que melhor possam contribuir para o seu adiantamento.
Mas, se não temos, durante a vida corpórea, uma lembrança precisa
daquilo que fomos e do que fizemos de bem ou de mal em nossas existências
anteriores, temos, entretanto, a sua intuição. E as nossas tendências
instintivas são uma reminiscência do nosso passado, as quais a nossa
consciência, - que representa o desejo por nós concebido de não mais cometer as
mesmas faltas, - adverte que devemos resistir (LE, 393). Se o homem não tem,
portanto, lembranças precisas do passado, tem sempre a voz da consciência e
suas tendências instintivas, que lhe permite o conhecimento de si mesmo.
Existem mundos mais evoluídos, onde seus habitantes guardam
lembranças claras de suas existências passadas; mas isto é resultado da
condição superior por eles conquistada, e que os leva a uma melhor compreensão
e melhor aproveitamento da liberdade que Deus lhes permite desfrutar. Nesses
mundos, onde não reina senão o bem, a lembrança do passado nada tem de penosa;
é por isso que neles se recorda com frequência a existência precedente, como
nos lembramos do que fizemos na véspera.
Quanto à passagem que se possa ter tido por mundos inferiores, a
sua lembrança nada mais é, como dissemos, do que um sonho mau (LE, 394). Mesmo
em mundos como a Terra, e em casos muito especiais, existem pessoas que sabem o
que foram e o que faziam; contudo, abstém-se de dizê-lo abertamente, pois, do
contrário, fariam extraordinárias revelações sobre o passado.
Assim, cabe ao homem suportar resignadamente as provas e expiações
que lhe são pertinentes, sem a preocupação desnecessária de desvendar suas
vidas passadas, a cada nova existência a justiça divina dar-lhe-á a
oportunidade de retomar o curso do aprendizado interrompido, propiciando-lhe os
recursos necessários para os devidos reajustes. Observando seu próprio caráter,
ele sentirá, cada vez mais, a necessidade de superar suas imperfeições, pois
basta que estude a si mesmo, e poderá julgar o que foi, não pelo que é, mas
pelas suas tendências (LE, 399).
SEXO DOS ESPÍRITOS
No LE, 200 a 202, Kardec questiona:
“Têm sexos os Espíritos?
“Não como o entendeis,
pois que os sexos dependem da organização. Há entre eles amor e simpatia, mas
baseados na concordância dos sentimentos. ”
Em nova existência, pode o
Espírito que animou o corpo de um homem animar o de uma mulher e vice-versa?
“Decerto; são os mesmos os
Espíritos que animam os homens e as mulheres. ”
Quando errante, que
prefere o Espírito; encarnar no corpo de um homem, ou no de uma mulher?
“Isso pouco lhe importa. O
que o guia na escolha são as provas por que haja de passar. ”
Os Espíritos encarnam como
homens ou como mulheres, porque não têm sexo. Visto que lhes cumpre progredir em
tudo, cada sexo, como cada posição social, lhes proporciona provações e deveres
especiais e, com isso, ensejo de ganharem experiência. Aquele que só como homem
encarnasse só saberia o que sabem os homens. ”
Os Espíritos, em sua essência, têm sexo, não representado
exteriormente por órgãos genitais, mas sim correspondente às características
psicológicas de cada individualidade. Assim, nos Espíritos que simpatizam mais
com o estilo masculino, as virtudes tidas como masculinas apresentam maior
relevo, enquanto que, nos Espíritos que se adequam mais ao estilo feminino,
ressalta um maior aperfeiçoamento das virtudes femininas. Dessa forma, a masculinidade
e a feminilidade representam características interiores de cada
individualidade.
O que atrai os Espíritos entre si não é a exterioridade física,
mas sim a afinidade no pensar e no agir.
A escolha do sexo para o Espírito que vai reencarnar não está
sujeita aos preconceitos da nossa sociedade terrena, onde ainda prevalece o
machismo. Essa escolha leva em conta a necessidade de evoluir rumo à perfeição,
que só se alcança adquirindo todas as virtudes dos homens e das mulheres. Todos
nós temos de renascer incontáveis vezes como homem e como mulher, tantas vezes
quantas necessárias para nos tornarmos mais próximos da perfeição.
Não se deve supervalorizar o sexo físico, que e, em última
instância, um instrumento para as tarefas específicas da paternidade ou
maternidade.
Outro tópico importante é a importância da sexualidade equilibrada
para uma vida saudável. Em caso contrário, causamos danos sérios ao nosso
psiquismo e ao nosso organismo.
BIBLIOGRAFIA:
KARDEC, Allan - O Livro dos Espíritos, Livro 2°, cap. IV, cap.
VII, Cap. VIII;
KARDEC, Allan - A Gênese - Cap. XI. Cap. XII;
KARDEC, Allan - O Que é Espiritismo - cap. II, cap. III;
KARDEC, Allan - O Céu e O Inferno - cap. III, 2° Parte, Cap. II,
Cap. VIII;
KARDEC, Allan - Obras Póstumas - As cinco alternativas da
Humanidade;
Revista Espírita, de junho de 1863;
Revista Espírita, de janeiro de l866;
Revista Espírita, de junho de 1869;
EMMANUEL, Francisco Cândido Xavier- Religião dos Espíritos;
Parte B - Se Alguém Te
Ferir Na Face Direita
“Aprendestes que foi dito: olho por olho e dente por dente. - Eu,
porém, vos digo que não resistais ao mal que vos queiram fazer; que se alguém
vos bater na face direita, lhe apresenteis também a outra; - e que se alguém quiser
pleitear contra vós, para vos tomar a túnica, também lhes entregueis o manto; -
e que se alguém vos obrigar a caminhar mil passos com ele, caminheis mais dois
mil. - Daí aquele que vos pedir e não repilais aquele que vos queira tomar
emprestado. (S. MATEUS, v: 38 a 42.)
Jesus, quando esteve entre nós, procurou nos apresentar uma visão
diferenciada da vida. Sua doutrina é a antítese de tudo aquilo que nos ensina o
Espírito do mundo. O homem, no seu atraso espiritual, procurou fazer o melhor
ao seu alcance para adaptar os ensinamentos do Mestre aos interesses da
comunidade. E, foi sob a inspiração do Evangelho que se construiu a civilização
ocidental. Ninguém em sã consciência poderia dizer que a doutrina ensinada pelo
Cristo não teve um papel fundamental no crescimento da humanidade.
Mas o homem, em seus limites de entendimento, nunca conseguiu
assimilar determinados conceitos encontrados nos discursos de Jesus. E, um
deles, é o da humildade. Na introdução desta lição, Ele mostra que já no seu tempo,
não havia mais sentido os homens continuarem fazendo uso das antigas leis civis
ensinadas por Moisés:
olho por olho, dente por dente, dizia o antigo profeta. Eu, porém,
vos digo, disse o Cristo: se alguém vos ferir na face direita, oferece-lhe a
outra. Se alguém tirar-te a túnica, larga-lhe também a capa. Da a quem te pede
e não voltes às costas ao que deseja que lhe emprestes.
Foi assim que esse jovem na faixa dos trinta anos chocou a
sociedade do seu tempo e continua chocando até os dias atuais os homens contemporâneos,
que não conseguem compreender certos ensinamentos revolucionários.
Jesus, porém, veio nos ensinar as bases morais que devem reger o
comportamento dos seres humanos e não poderia fazê-lo se não usasse de um verbo
forte, capaz de impressionar pela gravidade das ideias. Este texto introdutório é à base de uma sociedade justa e fraterna, onde os
homens tratam-se como irmãos e procuram suportar as imperfeições uns dos outros.
Em “O Evangelho Segundo o Espiritismo”, capítulo 12, itens 7 e 8,
Allan Kardec, faz um comentário muito feliz da lição, mostrando que os homens
ainda se conduzem na vida dominados pelo orgulho e pelo egoísmo. Não poderemos construir
uma sociedade mais justa e fraterna se os homens não se tratarem como irmãos.
Infelizmente os sistemas que hoje governam a humanidade elegeram a competição
como instrumento de progresso. Perdido na exaustão da vida social, o homem não
consegue encontrar saída para seus problemas. Competir é a ordem do momento.
Infelizmente esta conduta gera disputas e desentendimentos, estimulando a
vileza e a avareza. As consequências para o futuro da humanidade em médio prazo
serão danosas.
O Codificador afirma que há mais coragem em suportar um insulto do
que em se vingar. Mas só pode vivenciar este estado de Espírito aquele que
acredita que exista algo além dessa vida. Para os materialistas, para os que se
conduzem nas malhas do niilismo, não há motivos para que suportem as injustiças
cometidas por pessoas que não compreendem ainda que todos somos filhos de um
mesmo Pai. O trabalho de esclarecimento é imenso e esta quase todo por fazer.
Os espíritas têm em mãos um precioso material doutrinário, capaz de apresentar
ao homem novas opções de vida, fundamentadas nos princípios de imortalidade, da
reencarnação e da lei de causa e efeito.
BIBLIOGRAFIA:
KARDEC, Allan - O Evangelho Segundo o Espiritismo - Cap. XII, item
7 e 8;
Fonte: FEESP – CURSO BÁSICO DE ESPIRITISMO – 1º Ano – 37ª. Edição – Fevereiro/2012
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